Segundo a história, aproximadamente há uns 2.500 anos atrás, na Índia, viveu Sidarta Gautama, mais provavelmente reconhecido pelo leitor como Buda, a figura-chave do budismo. Para tradição budista, o primeiro ensinamento de Buda após sua iluminação foi acerca das Quatro Nobres Verdades:

  1. A verdade do sofrimento: na vida existe o sofrimento ou insatisfação. Há sofrimento no nascimento, na doença, no envelhecimento, na morte e em diversas outras circunstâncias as quais todo ser vivo passa.
  2. A verdade da origem do sofrimento: o sofrimento ou insatisfação é causado pelo apego e aversão, que por sua vez são causados pela ilusão de um “eu” separado, de uma identidade permanente e incondicional, de uma concepção essencialista do “eu” e de todos os demais fenômenos. Para Buda, tudo no universo é impermanente e interdependente, logo qualquer noção de uma identidade fixa seria ilusória.
  3. A verdade da cessação do sofrimento: é possível cessar o sofrimento. Se o sofrimento é causado, ao removermos essas causas, removemos também o sofrimento.
  4. A verdade do caminho para cessação do sofrimento: o caminho que leva a cessação do sofrimento é o Nobre Caminho Óctuplo (também conhecido como o caminho do meio): compreensão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, meio de vida correto, esforço correto, atenção correta, e concentração correta.

As 4 Nobres Verdades da Psicologia Positiva

As Quatro Nobres Verdades do budismo podem servir como uma fonte de inspiração para a psicologia positiva, que busca estudar cientificamente a felicidade e produzir as suas causas. A partir de uma perspectiva científica atual e partindo da premissa de que o sofrimento é o inverso da felicidade, podemos derivar do budismo as Quatro Nobres Verdades sobre a felicidade da Psicologia Positiva:

  1. A verdade da felicidade
  2. A verdade das causas da felicidade
  3. A verdade da criação da felicidade
  4. A verdade do caminho para a felicidade

1) A verdade da felicidade

Como Buda ensinou, na vida existe o sofrimento. Mas existe também o seu oposto, a felicidade.

De acordo com Martin Seligman, um dos criadores da Psicologia Positiva e ex-presidente da American Psychological Association, a felicidade ou bem-estar é formado por cinco elementos: emoções positivas, engajamento, relacionamentos positivos, significado e realização (em inglês, isso nos dá o acrônimo PERMA, de positive emotions, engagement, relationships, meaning, accomplishment), os quais são as bases nas quais se desenvolvem vidas agradáveis, engajadas, significativas, sociais positivas, e realizadoras.

O modelo PERMA da felicidade

Podemos ver, que ao contrário de uma concepção hedonista, as emoções positivas (satisfação, prazer, alegria) são apenas um dos elementos da felicidade. A concepção da felicidade da Psicologia Positiva está muito mais próxima da eudaimonia, o conceito dos filósofos da antiguidade (incluindo Sócrates, Aristóteles e os estóicos), que significa algo como “viver bem” (com virtude, com excelência), ao invés de “se sentir bem”.

2) A verdade das causas da felicidade

Podemos dividir as causas gerais da felicidade em 3 elementos:

  1. Genética;
  2. Ambiente;
  3. Atividades voluntárias e conscientes.

Baseado em estudos com gêmeos, a psicóloga Sonja Lyubomirsky chega à conclusão de que a genética é responsável por 50% da felicidade, enquanto que as circunstâncias exteriores é responsável por 10% e os 40% restante atribuído às nossas atividades voluntárias que exercemos controle.

3) A verdade da criação da felicidade

Se a felicidade tem suas causas, é possível criar uma vida feliz, criando suas causas. E aí é onde as pesquisas da Psicologia Positiva têm sua vez.

4) A verdade do caminho para a felicidade

Para sermos felizes, por questões pragmáticas, não devemos focar na genética, nem no ambiente, mas nas atividades voluntárias e conscientes que proporcionam bem-estar. Assim como o budismo afirma que o caminho para a cessação do sofrimento é um conjunto de práticas ou hábitos, a psicologia positiva chega à uma conclusão parecida (mas diferente das tradições religiosas, através de estudos que se utilizam do método científico) em se tratando de causar a felicidade.

Para alterarmos nossos genes, precisaríamos de uma engenharia genética muito mais avançada do que a que temos hoje. E mesmo assim, outros 50% responsáveis pela felicidade ainda ficariam faltando.

Um fato da vida é que parte das circunstâncias exteriores estão sobre nosso controle, e (grande) parte não está. A oração da serenidade fala a respeito disso de uma forma muito mais poética do que eu poderia falar: “dai-me a serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar, coragem para mudar as coisas que eu possa, e sabedoria para que eu saiba a diferença”. Mesmo tendo coragem para mudar as coisas que se pode mudar, e indo atrás das coisas que se quer, sofremos do que Brickman e Campbell chamaram de esteira ou adaptação hedonista: a tendência das pessoas retornarem a níveis relativamente estáveis de felicidade, apesar de grandes eventos positivos ou negativos e das mudanças ocorridas na vida. Assim, as pessoas se adaptam aos prazeres que obtêm; depois que você consegue o aumento de salário que você tanto desejava, por exemplo, suas expectativas e padrão de vida também vão aumentar, o que resulta em nenhum ganho permanente de felicidade.

Sobra portanto os 40% de felicidade atribuídos às atividades voluntárias, práticas nas quais as pessoas podem escolher se engajar, e que geralmente requerem algum nível de esforço até se transformarem em hábitos. Essas são as práticas de felicidade ou bem-estar.

No livro “The How of Happiness: A New Approach to Getting the Life You Want”, a psicóloga Sonja Lyubomirsky fala sobre 12 práticas de bem-estar que já foram comprovadas cientificamente:

  1. Expressar gratidão: agradecer pelo que você tem ou agir de forma grata com pessoas a quem você nunca agradeceu de forma apropriada;
  2. Cultivar o otimismo: ter um diário no qual se escreve o melhor futuro possível ou tentar olhar para o lado positivo das coisas;
  3. Evitar a ruminação e comparação social: usar estratégias para reduzir a frequência com que você fica ruminando sobre os seus problemas e com que você se compara com as outras pessoas;
  4. Praticar atos de bondade: fazer coisas boas para outras pessoas, sejam elas amigas ou estranhas;
  5. Cultivar relações sociais: investir tempo e energia em relacionamentos que valem a pena fortalecer;
  6. Fazer mais atividades em que você fica realmente envolvido: aumentar a quantidade de experiências desafiadoras e imersivas, nas quais você se perde em si mesmo (experiências de fluxo);
  7. Saborear as alegrias da vida: prestar atenção aos pequenos prazeres da vida;
  8. Comprometer-se com seus objetivos: escolher alguns poucos objetivos que são significativos para você e dedicar tempo e esforço para alcançá-los;
  9. Desenvolver estratégias para lidar: praticar formas de suportar ou superar um estresse, dificuldade ou trauma recente;
  10. Aprender a perdoar: ter um diário ou escrever uma carta na qual você se esforça para deixar ir a raiva e o ressentimento por uma ou mais pessoas que te feriram ou magoaram;
  11. Praticar religião e espiritualidade: se tornar mais envolvido na comunidade religiosa ou ler e ponderar sobre temas espirituais / existenciais;
  12. Cuidar do corpo: se envolver em atividades físicas, meditar, sorrir e rir.

A psicologia positiva ainda está se desenvolvendo, com novas pesquisas sendo realizadas e, portanto, está longe de estabelecer uma lista completa de práticas a serem exercidas. Mas já temos algumas pistas… E lembre-se: o que você pratica, você fortalece.

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