O que é um problema social?

Um problema social é uma condição indesejada que afeta uma proporção significativa dos membros de um determinado sistema social. No entanto, para reconhecermos uma condição como um problema social, mais importante do que o número de indivíduos afetados pelo problema em questão, é que esse problema se origine e seja mantido por arranjos ou estruturas sociais existentes: normas, regras, políticas, costumes, práticas, ideologias e todos os outros fatores que padronizam a vida social (Bruhn & Rebach, 2007).

Essa concepção de que problemas sociais se originam e são mantidos por arranjos sociais reforça a ideia de que, quando diversas pessoas são afetadas de forma semelhante, devemos olhar para os arranjos sociais como uma causa.

Porém, é importante destacar que não são os eventos objetivos que determinam o que é ou não um problema social. A própria definição de uma condição como sendo um problema social é um processo social que pode ser problemática, uma vez que relações de poder dentro de um sistema social podem determinar o que é definido ou não como um problema social e, isso por si só, já pode ser um problema social.

O sofrimento emocional como problema social

Problemas psicológicos são definidos pela experiência do sofrimento emocional. À primeira vista, então, pelas emoções serem vivenciadas de forma individual, pode parecer que os problemas de saúde mental são totalmente individuais.

Mas se olharmos para os 2 critérios do que definem um problema social (ser compartilhado por mais do que uma pessoa e ser originado ou causado por arranjos sociais), fica evidente de que o sofrimento emocional é um problema social:
a) Obviamente, mais do que uma pessoa é afetada pelo sofrimento emocional. No mundo em que vivemos, o sofrimento emocional é mais a norma do que a exceção.
b) O sofrimento emocional é originado e mantido pelos arranjos sociais. Apenas como exemplos de evidências que temos atualmente:

  • As pessoas têm maior probabilidade de experienciar sofrimento diagnosticável se tiverem passado por eventos traumáticos, incluindo abuso e negligência.
  • Pelo menos 60-70% das pessoas com alucinações visuais ou auditivas passaram por experiências de abuso físico ou sexual na infância, segundo a meta-análise de Read, van Os, Morrison, & Ross (2005).
  • Pessoas nascidas em áreas da classe trabalhadora com pais que realizam trabalho manual têm 8 vezes mais chances do que outros de receberem um diagnóstico de esquizofrenia quando adultos (Harrison, Gunnell, Glazebrook, Page, & Kwiecinski, 2001).
  • Ter nascido com pais com baixa escolaridade dobra as chances de receber um diagnóstico de depressão; se nenhum dos pais tiver um emprego qualificado, o risco é triplicado (Ritsher, Warner, Johnson e Dohrenwend, 2001).
  • Em comparação aos homens, as mulheres têm aproximadamente o dobro de chance de receberem diagnósticos de depressão ou transtorno de ansiedade; em parte à violência doméstica (Garcia-Moreno, Jansen, Ellsberg, Heise, & Watts, 2005).
  • Em sociedades onde a desigualdade econômica é maior, a prevalência de muitos problemas de saúde (incluindo os categorizados como de “saúde mental”) é maior (Wilkinson & Pickett, 2009).

Os arranjos sociais como determinantes do sofrimento emocional

Os arranjos sociais geram as situações ruins nas vidas das pessoas que, por sua vez, geram o sofrimento emocional (Guerin, 2021). Os fatores distantes determinam os fatores próximos que, por sua vez, determinam as experiências das pessoas (Smail, 1993).

Se quisermos diminuir o sofrimento emocional, não basta apenas resolver o problema do indivíduo que já está sofrendo, como um problema individual; temos que abordar a saúde mental como um problema social, consertando os arranjos sociais (o que chamamos de “questões estruturais”), através de ações sociais, comunitárias e ativismo.

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