A história da humanidade consiste em uma espécie que não tinha muitas vantagens físicas para ser o caçador ou o predador, e, que na realidade, foi caça e presa pelo maior tempo da sua história na Terra, mas que ainda assim, se tornou a espécie dominante do planeta há pouco tempo.

O que deu a vantagem competitiva para o ser humano em relação aos outros animais foi a cultura (aprendizagem social sofisticada), possibilitada pela linguagem e cognição. Assim como os outros animais, os humanos também buscam perseguir o prazer e fugir da dor. Mas diferentemente dos outros animais, os seres humanos, através da linguagem e cognição, têm a capacidade de relacionar eventos arbitrariamente em quase qualquer forma possível (ex: igual a, similar a, melhor que, oposto de, parte de, causa de, e por aí vai). Essa rede de relações arbitrárias ou convencionais (que é ensinada pela cultura e controlada pelo contexto) é o suporte para as ficções compartilhadas e, consequentemente, para retroalimentar as culturas. Enquanto as outras espécies aprendem somente através da experiência direta (a ordem natural), os seres humanos aprendem também a partir de relações que emergem espontaneamente das experiências do indivíduo ou de outros (a ordem imaginada).

Com essas ficções compartilhadas, os membros da espécie humana foram capazes de cooperar em uma escala gigantesca, alcançando o que nenhum indivíduo sozinho ou outra espécie conseguiria alcançar.

O drama da condição humana é causado pela mesma capacidade que permitiu que o homem se tornasse a espécie dominante do planeta. Assim como os animais fogem da dor e dos eventos que causam dor, através da linguagem e da cognição, algumas experiências internas dolorosas fazem com que os seres humanos usem a mesma estratégia que usam para resolver os problemas do mundo externo: lutar ou fugir. No mundo externo essa estratégia (“se você não gosta de alguma coisa, se livre dela”) funciona bem; mas para o mundo interno, essa estratégia não funciona como o desejado, pelo simples fato de que as experiências internas (pensamentos, sentimentos, impulsos) não são controláveis como os eventos externos (no mundo interno, a regra é mais próxima de “se você não estiver disposto a ter, você vai ter”). A fuga das experiências internas dolorosas gera uma batalha contra as mesmas que acaba marcando e limitando a vida do indivíduo e causando o sofrimento: a fuga das experiências dolorosas ou desconfortáveis faz com que o indivíduo viva mais em sua própria mente (mergulhando nas histórias que ele conta sobre si mesmo) do que em contato com a sua realidade, e causa a dor de deixar de ir atrás do que realmente importa para o indivíduo.

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